Mensagem do Presidente

Citando o prefácio do livro “Recordar 100 anos”, a propósito da celebração do seu centenário: “Quando em 1896 um conjunto de ilustres angrenses decidiu constituir a Caixa Económica da Misericórdia de A. H., suprindo na época a inexistência de estabelecimentos bancários na Ilha, dificilmente imaginariam a longevidade do seu projeto. O que é facto, é que esta Instituição de Crédito, nascida na Monarquia, atravessando a 1.ª República, o estado Novo e o 25 de Abril e inserida numa Europa em integração económico e social, consolidou-se e afirmou-se como um importante valor coletivo desta universal cidade de Angra do Heroísmo”. E, mais adiante, ainda no mesmo prefácio “(…) ao pertencer à SCMAH, Irmandade portadora de um vasto património e de uma natural obra de ajuda ao próximo, sente-se possuída de um especial estatuto e de uma forte motivação para a obtenção de resultados destinados ao co-financiamento do seu Plano de Atividades”.

Diria que na conjugação deste feliz binómio serviço e adaptação com o natural bom senso – que deve imperar acima de tudo –, reside o segredo para a longevidade desta Caixa Económica, agora deparando-se com novas e exigentes desafios, como são os do novo enquadramento regulatório Europeu/Comunitário e a inevitável adesão às novas tecnologias que estão a acelerar a “revolução digital” no setor, com a consequente autonomização de processos.

No prefácio há pouco citado, já lá vão 20 anos, não se adivinhava a chamada “tempestade perfeita” que o setor atravessou, sobretudo a partir da última década, com importantes desafios conjunturais e estruturais. Na ressaca da crise do “subprime” de 2008, da crise das dívidas soberanas, e da maior crise económica desde 1929, assistiu-se à existência de fortes restrições e desafios enormes à própria atividade bancária, com as consequentes dificuldades de acesso ao funding (que em bom rigor nunca foi um problema desta Caixa Económica, até pelo contrário, sempre soube pautar a gestão do seu passivo por um elevado e notável conservadorismo), as baixas taxas de juro, o esmagamento das margens financeiras, o agravamento das imparidades (como consequência da crise económica) e a inevitável e saudável desalavancagem do setor reduziram em muito a capacidade do mesmo gerar receitas confortáveis. Por outro lado, a banca assistiu a um aumento sem precedentes das iniciativas regulatórias, de supervisão prudencial e comportamental, bem como a própria defesa do consumidor. É neste exigente e complexo quadro que nos situamos. No futuro, e sem tentar fazer prognósticos, também se anteveem fortes desafios e as aprendizagens decerto também não terão fim.

Adicionalmente, a recente alteração estatutária bem como a aprovação de um regime jurídico mais abrangente, possibilitando a transformação em Caixa Económica Bancária, vão determinar mais uma nova etapa na já centenária vida desta Instituição, posicionando-a como uma importante e sólida Instituição financeira ao serviço da economia dos Açores e sempre com o objetivo supremo da proteção dos seus depositantes, cumprimento escrupuloso do quadro regulatório vigente, relacionamento de excelência com as autoridades governamentais regionais e, na medida que for possível e consistente, libertação de meios através de dividendos para ajudar a cofinanciar a importante e relevante obra social da sua Instituição Titular – a Santa Casa da Misericórdia de Angra do Heroísmo.

Assim sendo, e neste espírito, tomo a liberdade de assumir pela Instituição, holisticamente, mas também por mim, a título individual, uma vez que presidirei ao Conselho de Administração, a missão de, com os meus pares, assegurar a definição e persecução de uma estratégia alicerçada no desenvolvimento sustentado, para o presente e para o futuro, contribuindo para a dignificação e fortalecimento do sistema financeiro, e do espaço económico em que nos situamos, em particular – a Região Autónoma dos Açores.

Mais, acredito que estamos muito bem posicionados para ir de encontro a esse compromisso exigente, onde uma Instituição de cariz regional, que não esquece que os fatores proximidade e conhecimento local, e com nobres objetivos sociais, é competitiva e tem espaço para ser muito útil, faz falta!…


António Gabriel Fraga Martins Maio